¿Música? 19
¿Música? 19 :: CIDADE
arte para escutar
De 11 a 14 de novembro de 2024
No saguão do Departamento de Música - ECA/USP
Abertura: dia 11 de novembro, às 15h
Informações: https://nusom.eca.usp.br/musica19
Esta 19º edição da série ¿Música? traz 5 trabalhos voltados para a escuta da cidade. O desafio proposto foi o de emprestar os ouvidos aos sons da cidade de São Paulo e projetar o resultado da escuta em forma de obras coletivas de arte sonora. Partindo de exercícios de gravação de campo na cidade de São Paulo, leituras de textos e discussões de outros trabalhos de arte sonora, os grupos se dedicaram a recriar suas escutas por meio de trabalhos criativos que envolvem sons, imagens, palavras e movimentos.
A série ¿Música? foi iniciada em 2006 no com a ideia de pensar a música e as artes sonoras como formas maleáveis, sem contornos definidos. Ao longo dos anos, cada edição esteve dedicada a explorar as formas e os meios de se criar com os sons, em que as dimensões do sensível, da crítica e do conhecimento se entrelaçam nos projetos de música e arte sonora.
As obras expostas no ¿Música? 19 :: CIDADES são:
1 - Desenhando com Água Preta
Dormindo, o trabalho surgiu em sonho: captar e gravar os sons dos rios de São Paulo, mapeando e visualizando gravadores mergulhando nas frestas, bueiros e cantos por onde o rio passava debaixo da terra. Escolhemos a Praça das Nascentes como ponto de partida, localizada no bairro da Pompéia. Mapeamos o percurso do Água Preta até seu desemboque no rio Tietê. Através da caminhada, fomos desenhando os vestígios do córrego, nos atentando para suas expressões no território urbano. A experiência sonora aconteceu em função da performance, na disposição aos acasos e nas leituras subjetivas das camadas da cidade que foram nos atravessando ao decorrer da experiência. A materialidade do trabalho dita pela transparência do papel vegetal, traça por aproximações e arranjos composições de leitura tanto nossas quanto de quem vier a ler o trabalho.
Criação de Dora Naspolini, Fernanda Vaidergorn e Herbert Baioco
2 - Pavilhão juventude
Guardar memória é um ato, uma decisão. Vozes, sons, silêncios. Conta-se, ouve-se e silencia-se. O apagamento do lastro histórico é a violência que tenta impedir as lembranças. Na instalação "Pavilhão juventude" criamos um instrumento musical que emula, em seu formato, o presídio feminino do Carandiru e, em sua sonoridade, ecos da história do presídio masculino, demolido depois de um episódio violentíssimo de ação do Estado contra os detentos.
Criação de Yonara Dantas, Mig Antar, Ivan Noda, Alexandre Porres, Breno Rodrigues, Lucca Totti e Caio Milán
3 - Mosaico à Paulista
Qual é o som de um lugar? Os lugares têm um som próprio?
Assim como uma obra indeterminada, a gravação nos dá uma das infinitas possibilidades de recortes sonoros de um lugar. Exploramos os lapsos temporais de várias versões da paisagem sonora para sugerir que, ao mesmo tempo que todas representam aquele local, nenhuma delas é uma representação capaz de definir a realidade. Concebemos a sonoridade da Avenida Paulista como um fluxo em constante transformação, construído coletivamente por seus diversos habitantes. O cartão-postal de São Paulo não tem uma única identidade sonora característica, mas orienta relações desiguais de conflito, compartilhamento e negociação entre escutas.
Criação de Thayná Bonacorsi, Júlio Corrêa, Gustavo Branco e Eder W. B. Pena
4 - Subterrâneos
“Subterrâneos” testemunha a emergência de teias sonoras e comportamentais que refletem a vida urbana contemporânea dentro do transporte público de São Paulo. A proposta previa que cada integrante do grupo registrasse o percurso da estação Clínicas até a estação Sumaré da linha verde do metrô de São Paulo. O objetivo inicial era mapear os sons que moram no dia a dia destes espaços e para isso, os integrantes do grupo puderam percorrer o caminho, cada um no dia e horário da semana de sua disponibilidade. A intenção era partilhar algo que extrapolasse o som. Ao registrar um ambiente que é pensado como passagem criamos uma atitude de escuta e de vivência na contracorrente. O exercício de parar para ouvir um ambiente submetido à aceleração constante que se expressa nos olhos e ouvidos atordoados dos transeuntes, trouxe questionamentos na esfera da escuta e na esfera relacional. Apesar dos olhos fixos nas portas, nas telas e no chão do metrô; apesar dos ouvidos enclausurados nos fones, das bocas fechadas, das conversas íntimas e silenciosas daqueles que entram acompanhados ou desacompanhados no metrô e do comportamento solitário da maioria; foi possível perceber, através de uma escuta sensível, outras realidades que têm a potência de humanizar o trajeto. O adormecimento da mente no entra-sai-anda rápido esconde uma necessidade de partilha e de escuta. Os protocolos sociais mascaram de forma eficiente e angustiante aquele tempo de vida que deveria passar o mais rápido possível. Os sons de máquina estão presentes e são intensos: o metrô chegando e partindo, as portas abrindo e fechando, os avisos que soam dos alto-falantes... As dimensões visuais e o auditivas se atrapalham nesse ambiente exaustivo. A escuta intencionada é capaz de modificar essas perspectivas e a cidade poderia se tornar mais humana e afetiva. Perguntamos quantas vezes ao dia utilizamos dessa escuta ampliada ou intencionada? E se tudo que acontece ao nosso redor fosse de nosso interesse? Quem é beneficiado por uma escuta tão pouco atenta, a não ser a lógica da urgência produtivista do capitalismo contemporâneo? Ainda existe vida no metrô...? Uma senhora se aproxima contando uma história para alguém que não vejo. Percebo que esse alguém sou eu. Basta tirar os olhos do caderno de anotações. A história vai embora junto com a senhora através da porta do metrô. Fico com um pedaço de história e ela com um pedaço de escuta.
Criação de Barbara Blasques, Laure Stelmastchuk, Lilian Kulchar, Pedro Paulo Köhler, Rogério Costa e Yasmin Rainho
5 - Por que você veio aqui?
Por que escolhemos gravar certas situações, lugares, ambientes? Por que, às vezes, acabamos voltando aos lugares que não voltam mais? A relação entre cidade e não-cidade, mundo adulto e mundo da infância, se entrelaçam neste trabalho, que busca misturar a memória afetiva sonora e a realidade de forma lúdica. A partir de uma experiência em campo no jardim da infância no qual a autora estudou há 15 anos, nascem narrativas sonoras, visuais e literárias. Ao voltar a atenção para esse esconderijo na cidade de São Paulo, a obra propõe uma busca pela cidade sonora escondida na história de cada um. O choque das perspectivas defasadas em 15 anos abre uma brecha no tempo, entre o antes e o agora, proporcionando encontrar o que há de perene no efêmero.
Criação de Clara Berbel
6 - Rush
Como soa uma cidade? Rush cria uma imagem sonora e visual de São Paulo ao realizar um processo de sonificação das linhas de ônibus urbanos da cidade. Cada ponto representa a posição de um dos cerca de 13 mil veículos da frota paulista. O registro refere-se aos dados extraídos num intervalo de poucos minutos durante o horário de rush. O mapa que se forma revela, aos poucos, os adensamentos, os movimentos e a complexidade da metrópole.
Criação de Fernando Iazzetta, Esteban Viveros e Julián Jaramillo Arango
NuSom - Núcleo de Pesquisas em Sonologia