CÍRCULO DE ESTUDOS PARA “DEEP LISTENING”
ENCONTROS: CÍRCULO DE ESTUDOS PARA “DEEP LISTENING”
Prof. Responsável: Prof. Dr. Mikhail Malt – (IRCAM, França)
Coordenação Geral: Prof. Dr. Fernando Iazzetta e Profa. Dra. Cássia Carrascoza Bomfim – (NuSom - ECA-USP)
Horário: Quintas-feiras, das 9:00 às 11:00
Período: Dias 2, 9, 16, 23 e 30 de outubro e dia 7 de novembro
Público-alvo: Músicos e artistas, público em geral
Vagas: 12 vagas
Inscrições: até 01/10/2025 pelo formulário: https://forms.gle/hrpCJGHKnB771YDS7
Evento gratuito. Poderá ser realizado em em formatos on-line ou presencial.
1. INTRODUÇÃO
1.1. Objetivo
O objetivo deste curso é introduzir de forma experiencial a noção de Deep Listening©, desenvolvida por Pauline Oliveros nos anos 1970, construindo uma reflexão crítica a respeito da escuta. O curso será realizado em 6 encontros dirigidos pelo professor Mikhail Malt (Ircam, França) em formato online e presencial.
1.2. Porque “Deep Listening©” e Pauline Oliveros
Apesar de sua intensa atividade, o legado de Pauline Oliveros ainda é pouco conhecido. Compositora, improvisadora, teórica, pesquisadora, feminista, ativista LGBT e humanista, Oliveros exerceu grande influência sobre um número significativo de músicos. Em 1989, o compositor John Cage afirmou sobre ela: “Por meio de Pauline Oliveros e do Deep Listening finalmente sei o que é harmonia... Trata-se do prazer de fazer música.”
1.3. “Deep Listening”
Entre as muitas teorias musicais sobre a escuta (Hanslick, Schenker, Costère, Schaeffer, Schafer, Norman, Meyer, Huron, Levitin, Nattiez, Tagg, Bregman, Gaver, Leman, Truax, Feld, Smalley, Oliveros, Szendy, etc.), sejam elas descritivas, prescritivas, apenas três incluem um plano didático para aprender essa forma de escuta e sua integração: o Solfège de l’objet Sonore de Pierre Schaeffer (com os exemplos sonoros de Guy Rebel e o Guide des Objets Sonores de Michel Chion), os diferentes conceitos de escuta e composição de Murray Schafer e o Deep Listening de Pauline Oliveros. Entre elas, Deep Listening é a única que oferece um método prático para desenvolver criatividade e habilidades de escuta para músicos, sejam intérpretes ou compositores. A partir desse método Oliveros criou um corpo notável de composições de caráter aberto e inclusivo, as Sonic Meditations. São obras textuais abertas, escritas de maneiras muito diversas, envolvendo desde descrições algorítmicas de processos interpretativos até prescrições poéticas. Para a compositora, as Sonic Meditations têm um papel importante na nutri e encorajar a formação de novos compositores e consistem na fundação para o Deep Listening.
2. PROGRAMA
Os encontros serão realizados em seis oficinas de Deep Listening, cada uma com duas horas de duração, visando:
• Compreender o que é o Deep Listening, de acordo com Pauline Oliveros;
• Experimentar as proposições do “Deep Listening” a partir da coleção de obras das “Sonic Meditations”;
• Improvisar livremente com base em exercícios de Deep Listening.
3. METODOLOGIA
3.1. As sessões
Em relação à metodologia de trabalho, proporemos aos estudantes um estudo e pesquisa em primeira pessoa, de acordo com o conceito elaborado por Francisco Varela:
“Por eventos de primeira pessoa entendemos a experiência vivida associada a eventos cognitivos e mentais. Às vezes termos como ‘consciência fenomênica’ e até mesmo ‘qualia’ também são usados, mas é natural falar em ‘experiência consciente’ ou simplesmente ‘experiência’. Esses termos implicam que o processo em estudo (visão, dor, memória, imaginação, etc.) aparece como relevante e manifesto para um ‘eu’ ou ‘sujeito’ que pode oferecer um relato; eles têm um lado ‘subjetivo’.”
Paralelamente, haverá um exercício de reflexão e crítica, acompanhado pela verbalização das experiências vividas e seu exame. As sessões serão organizadas em torno de trabalhos com movimento corporal (energia), respiração, vocalização e escuta, sobretudo, em torno da interpretação das Sonic Meditations.
3.2. O trabalho complementar
Cada participante deverá manter um diário de escuta. Dada a natureza muito prática das sessões, é importante que cada participante seja capaz de verbalizar a própria experiência para depois retomá-la com mais perspectiva. Esse diário é uma ferramenta fundamental para a realização do trabalho em “primeira pessoa”, permitindo, posteriormente, um retorno mais completo aos processos realizados.
3.3. Avaliação
A avaliação será realizada por meio de acompanhamento contínuo. Em cada sessão haverá uma breve tarefa — geralmente uma reflexão sobre um trecho de texto ou comentários sobre certas práticas de Deep Listening. Cada participante terá um documento online, visível apenas para ele e para o orientador. Caberá ao participante inserir suas reflexões, seja em forma de texto, desenho ou musicalmente.
4. REFERÊNCIAS
[1] Oliveros, Pauline. Sonic Meditations. Baltimore, MD: Smith Publications, 1974.
[2] Oliveros, Pauline. Software for People: Collected Writings 1963–80.
[3] Oliveros, Pauline. Deep Listening: A Composer’s Sound Practice. IUniverse, 2005.
[4] Varela, Francisco, and Jonathan Shears. “First-person Methodologies: What, Why, How?” Journal of Consciousness Studies 6.2-3 (2005): 1–14.
Mikhail Malt
Com dupla formação científica (engenharia) e musical (composição e regência), iniciou sua carreira musical no Brasil como flautista e maestro. É autor de uma tese em musicologia, na École des hautes études en sciences sociales, sobre o uso de modelos matemáticos na composição assistida por computador. Foi professor associado na Sorbonne Paris IV, de 2006 a 2012, e professor de música computacional no departamento pedagógico do Ircam (Institut de recherche et coordination acoustique/musique), Paris-França até 2021. Atualmente é pesquisador associado à equipe de Representações Musicais do Ircam e no iReMus-Sorbonne em Paris. Desenvolve suas atividades como pesquisador, compositor e improvisador em áreas como a música generativa, sistemas criativos, epistemologia da representação e estratégias de escuta, interagido também com de diversas partes do músco, Benny Sluchin (trombone), Joëlle Léandre (contrabaixo), Li-Chin Li (Sheng), Valérie Philippin (Voz) e Cássia Carrascoza (flautas).