Conversa em torno da improvisação
Conversa em torno da Improvisação
com Inés Pérez-Wilke e Rogério Costa
Segunda-feira, dia 17 de junho de 2024, 14h00
Evento on-line
Encontro on-line a respeito do livro:
Autour de la Improvisation - Essais
Textos reunidos por Inés Pérez-Wilke, Patricia Kuypers e Rogério Costa
Editora L'Harmattan, 2024
A marginalidade das práticas e dos estudos em improvisação faz com que se desenvolva uma rede de praticantes, quase invisíveis, escondidos nas relações cotidianas, despercebidos, onde se encontram e se encontram improvisadores de diversas correntes. Acontece por vezes que os improvisadores que fazem parte desta rede se unem para responder à necessidade de participar num jogo desconhecido. Este contexto foi propício à organização do ciclo de webinars Risquer Le Vide – Interdisciplinaridade e Performatividade das práticas improvisadas realizado em 2021, que deu origem a encontros com o mesmo título, em março de 2022, na ilha de Sainte Marguerite (Cannes, França) – que constituiu o terreno de onde surgiu este livro.
Este encontro permitiu-nos partilhar questões e experiências em torno da prática da improvisação. O interesse em aprofundar a reflexão e a necessidade de propagar as sementes de um conhecimento essencialmente passageiro, dinâmico e diversificado, incentiva-nos a recolher na escrita os vestígios destes percursos reflexivos. Esses traços em sons, imagens e textos possibilitaram imaginar um objeto heterogêneo, aberto, que reúne em um único volume vários tipos de materiais. É também por esta razão que apresentamos um trabalho multilingue. Sete textos estão em francês, dois em espanhol, dois em português e um em italiano. Esses textos, sem tradução, falam a partir de seus territórios, e fazem de suas heterogeneidades um fato reflexivo. A manutenção dos textos nas suas línguas originais, com a diversidade que isso implica, evita a tradução para francês ou inglês devido a um apelo à reflexão decolonial que está subjacente à dimensão política de muitos projetos de improvisação.
Neste contexto social que normaliza a violência, os armamentos, as guerras, a exclusão de milhões de pessoas e em que já sentimos as gravíssimas consequências da degradação das condições ambientais, as hegemonias econômicas e culturais impostas pelo neoliberalismo colonial capturam desejos coletivos a favor da individualismo produtivista. Já a improvisação enfatiza a solidariedade, o diálogo, a tolerância e os processos que envolvem a criatividade coletiva e individual. E sabemos que a improvisação exige responsabilidade compartilhada, capacidade de negociar diferenças e vontade de aceitar os desafios do risco e da contingência. Com este livro vazio de certezas, cheio de esperança, aberto às virtualidades, queremos dar a nossa pequena contribuição nas lutas em favor de um mundo descolonizado, mais acolhedor, igualitário e em harmonia com a natureza.