Conversa com Giselle Beiguelman

Estéticas da memória no século 21: políticas do esquecimento no espaço público e midiático

Segunda-feira, dia 16 de abril de 2018, 14h
Sala 12 do Departamento de Música - ECA/USP

Nesta conversa apresento um conjunto de trabalhos desenvolvidos nos últimos cinco anos, no campo das estéticas da memória. São trabalhos experimentais que se desenvolvem por meio de intervenções artísticas no espaço público, no âmbito das redes e nos espaços informacionais.

No contexto dos espaços urbanos abordo os projetos Beleza convulsiva tropical, obra realizada na 3ª Bienal da Bahia (2014), em Salvador, e Memória da Amnésia (2015/2016), em São Paulo. Nesses projetos, destaco as estratégias de invisibilidade e ocultamento e a supressão das imagens como eixos de ordenamento das políticas de esquecimento.

No plano dos espaços informacionais retomo questões que reverberam meus trabalhos com mídias digitais. Para tanto, fecho com o projeto Já é ontem?, um longo ensaio visual que documentou, de 2010 a 2017, as transformações da zona portuária do Rio de Janeiro (o Porto Maravilha), com ênfase na demolição do viaduto Perimetral e o entorno da Praça Mauá. Já é ontem? Traça um histórico muito particular, sem nenhuma pretensão de substituir a pesquisa historiográfica ou de planejamento urbano, com olhos de artista. Resultou em uma videoinstalação Cinema Lascado Perimetral (2017), apresentada ao público, e no ensaio que será publicado em livro pela primeira vez neste ano (2018).

Nesse ensaio, testo linguagens de corrupção de códigos de imagens, procurando dar conta de uma estética capaz de registrar um processo de transformações tão intensas pelas quais passaram o Rio de Janeiro e o Brasil nos últimos anos. Acredito que longe de apontar para um cenário de calamidade, estéticas contemporâneas das obsolescências tecnológicas configuram estratégias críticas de abertura para o futuro, atuando como um contraponto a visões lineares de progresso. Por esses motivos, nos permitem repensar a tecnologia de pontos de vista que são menos eufóricos e menos conservadores, contextualizando-a em relação a perspectivas de instabilidade e desorganização social.

Atravessadas por problemas de “carregamento”, esgotamento de memória do sistema e incapacidade de processamento das informações, as imagens estouram na tela. Trazem à tona seus índices de cor mais primários, como se revelassem suas entranhas. Sem ceder à comoção da ruína urbana que mumifica um passado-presente de exclusões sociais, compõem uma sequencia de intermitências. Nela se projeta uma inquietação sobre o tempo-espaço no século 21: já é ontem?

bio:
Giselle Beiguelman é artista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Dedica-se a pesquisas na área de preservação da arte digital, do patrimônio imaterial e do design de interface. Seu trabalho inclui intervenções em espaços públicos, projetos em rede e aplicações para dispositivos móveis, exibidos internacionalmente nos principais museus de arte e mídia, centros de pesquisa e espaços de arte contemporânea, como ZKM (Karlsruhe, Alemanha), Centro Pompidou, Gallery@Calit2 (UCSD, EUA) e Bienal de São Paulo. Foi Curadora de Tecnofagias – 3a Mostra 3M e é autora de vários livros e artigos sobre o nomadismo contemporâneo e as práticas de cultura digital. Entre os mais recentes destacam-se Nomadismos Tecnológicos (Senac, 2011) e Futuros Possíveis (Arte, Museus e Arquivos Digitais). Site: http://www.desvirtual.com

Date: 
segunda-feira, Abril 16, 2018 - 14:00